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terça-feira, 23 de novembro de 2010

The Beatle

 Esta semana começou diferente. Um Beatle veio dar o ar de sua graça em São Paulo e um burburinho, que há muito perambulava por aqui, de repente, cresceu: virou melodia na voz da fila quilométrica que dava voltas no Estádio do Morumbi; virou percussão nas palmas prematuras que aquele cordão de pessoas começava a ensaiar ao escutar uma voz conhecida que, lá dentro, cantava Penny Lane. Ele veio só passar o som, o melhor ainda estava por vir!

Mas daquela fila, ninguém reclamava e muito menos cedia o lugar – o sagrado lugar que, como numa caça ao tesouro, começou a ser procurado há cerca de um mês: pelo telefone (mudo!), pela Internet (lenta, travada!) ou por outra fila que, assim como essa agora, também abraçou o Pacaembu. Mas essa semana, estávamos todos na reta final e o pódio tinha mais de 60 mil lugares!

No meu caso, houve certa descriminação de quem não entende a grandeza daquele momento. <<Você só vai em coisa de gente velha!>> Eu tenho 22 anos. No meu rádio, Beethoven e Mozart, Queen e Beatles, Bethânia e Elis sempre serão muito bem vindos! Outros me perguntaram <<o que leva uma pessoa que não era nem nascida quando os Beatles estouraram, querer tanto ir a esse show?>> Eu não sei a resposta, mas sei que ela não passa nem perto do quesito idade. Ou então eu não teria visto os olhos brilhantes alegria-e-lágrima daquele menino ao telefone que dizia <<Eu estou muito feliz... Muito obrigado, tio!>>. Ele não tinha 15 anos! Ou então, eu não teria visto aquele mar de pessoas, cujos corações batiam a menos de 30 anos, e agora pareciam alcançar 300 km/h.!

O Rock ‘n Roll estava escrito naquele rosto e vivo naquela voz que dizia <<Boa noite, São Paulo! Tudo bem?>> E se os nossos olhos não queriam acreditar no que viam, tampouco os dele pareciam querer. Por 3 horas, 64 mil pessoas e um Beatle participaram de um milagre: reviver aquilo que nunca haviam vivido. Estávamos todos imersos naquele rio que não nos pode banhar duas vezes.

Não sei se realmente eu só vá a coisas de gente velha. Mas se for assim, me conforta o fato de saber que eu não sou a única. E aquela noite, eu poderia ser tão velha quanto a Lua (que também veio vê-lo); ou tão nova quanto a lágrima que deixei cair: eu só queria estar ali. E estava!

Tavito, uma vez, perguntou <<Será que algum dia eles vêm aqui cantar as canções que a gente quer ouvir?>>* Ele veio e cantou... e fez um monte de gente feliz! Na minha lista de sonhos, essa semana eu risquei mais um; e na estória da minha vida, escrevi mais um capítulo.

*Música: Rua Ramalhete (Tavito)